segunda-feira, 24 de julho de 2017

PAUSAR DA VIDA ...

Hoje tomei meu café com lágrimas e na minha boca amargava as saudades que sinto da minha mãe. 

Fiquei pensando em quantas vezes, desde que me tornei mãe, já escutei a frase “não pause sua vida pelos filhos pois eles um dia crescem” ou alguma variação dela, repetida, ainda que não intencionalmente, como uma forma disfarçada de escrutinizar e menosprezar a dedicação materna. 

Se cria filho pro mundo, todo mundo diz. 

As asas, as benditas asas. 

Eu sei, você sabe.

Não pausar a vida. 

Ideia curiosa essa já que ser mãe é viver eternamente de pausas. Por 9 meses (ou mais) a gente pausa o vinho. 

Por aproximadamente 40 dias (mas provavelmente bem mais) a gente pausa a vida sexual. 

Por muitas e muitas noites a gente pausa o sono. 

A gente pausa a reunião de trabalho, a ligação importante, a promoção. 

A gente pausa a poupança porque juntar dinheiro fica difícil. 

A gente pausa as refeições e os banhos. 

A gente pausa os planos de viagens, as saídas com as amigas, as idas ao cabeleireiro. 

A gente pausa o coração na preocupação e a gente pausa a própria vida pra respirar a deles.

Criar para o mundo. 

O que isso seria? 

Suponho que minha mãe me criou “para o mundo,” sempre me dando asas. 

Saí de casa aos 14 anos e aos 18 saí do país. 

Fui conquistar esse mundão para o qual ela me criou. 

Mas a verdade é que eu nunca deixei de ser dela. 

Um pedaço dela. 

Um produto dela. 

Tão dela que mesmo com mais de 30 anos, eu ainda preciso que ela pause a vida dela por mim. 

E ela pausa. 

Passa 2, 3 meses aqui, vivendo minha vida. 

Ela pausa com a generosidade de quem é acostumada a pausar e doar e amar e amar e amar.


Então eu penso, enquanto tomo meu café com lágrimas e amargo as saudades que sinto da minha mãe, que filhos não são do mundo. 

Nossos filhos são nossos! 

Eles vieram da gente e voltam pra gente de novo e de novo. 

Mesmo estando longe, eles são nossos. 

Nossos pedaços. 

Nossos produtos. 

Os produtos de todas as nossas pausas. 

Porque é na pausa que fortalecemos o vínculo, é na pausa que construímos as memórias. 

É no pausar da vida, nesse incessante viver pelo outro, em meio as dores e sacrifícios que, como mulheres, muitas vezes nos vemos plenas; e mais do que isso, nos vemos mães.

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