É uma derrota se o Estado decide
gastar mais do que tem. Isso só é possível tomando emprestado o dinheiro dos
outros, roubando sua poupança ou cobrando mais tributos
Nas
situações de dificuldade, em que algum princípio é admitido, lembro sempre da
vida. Quando o destino é conviver com a existência de quem não tolero, sinto-me
de fato governante. A forma sombria de encarar o dever de fazer regime não foi
amenizada pelo jantar dedicado a proteger o que é parco sem impor à sociedade o
modelo de endividamento que lhe tirou a saúde.
Tantas
repartições, leis, um mundo de autoridades que é difícil entender onde está o
erro. O contador olha para trás, resolve o problema das contas furioso por ter
sido consultado tarde. O balanço só fecha com cortes. O economista olha para
frente, vislumbra novas perspectivas, quer mais receita. A ordem é fazer
brilhar o corriqueiro, equalizar despesa e receita. Os dois se encontram.
Decidem rodar o carrossel da economia estatal mirando outra vez a sociedade.
República,
democracia, cidadania: três formas sádicas que se vingam dos que não dormem,
sempre os alvos desta adoração pública pelo bolso dos outros. Poder, o míssil
propulsor entra em órbita, liderado pelos gênios iguais que espalhamos por aí
para dar aulas sobre o que acabaram de aprender. Impiedosos, não podem ficar
desatentos ao inferior gastador, o homem livre e de desejo infinito. Consagrado
pelo sacramento do mando, o governante não tem um pressentimento complexo de
suas próprias limitações. “Pacote”, a bonança econômica da tempestade política,
o caro que não adianta, o barato que não funciona.
O que se
pode saber de um governo, hoje em dia? A América do Sul só vê perto. Não olha o
futuro, não se interessa por enxergá-lo. Quanto de dinheiro deve ser gasto pelo
Estado e com quanto você deve ficar para gastar com sua família?, perguntou a
dama conservadora ao Parlamento perdido. A progressista não se sentiu provocada
e deixou transparecer que, tradicionalmente, se mete na vida de todos através
da bagunça financeira. Esgotamos todo o dinheiro dos impostos e queremos mais
quando ele acaba, respondeu.
Mas o Estado
não tem outra fonte de recursos do que o dinheiro que as pessoas ganham para si
próprias, insistiu didaticamente. É uma derrota se o Estado decide gastar mais
do que tem. Isso só é possível tomando emprestado o dinheiro dos outros,
roubando sua poupança ou cobrando mais tributos. Seria uma vitória se todos se
dessem conta que não existe essa coisa de dinheiro público. O dinheiro que
existe é o de quem paga imposto.
É possível
engordar sem saúde, a prosperidade que parece vir da invenção de mais proteção
social, mais gasto público. Será que alguém se considera mais rico por ser mais
dependente? Ninguém enriquece ao perder a liberdade de iniciativa e não é justo
cobrar das pessoas mais do que elas podem pagar. Um visionário não deixou
passar a deixa: então podemos dizer que proteger a carteira do cidadão é o
maior de todos os direitos sociais? Conciliando isto com a proteção dos
serviços públicos é maior ainda.
Nós não
temos outra vida para perder. Quando alguém quis saber se alguma coisa não
fazia parte do ajuste fiscal, o idiota da família percebeu que o futuro é o que
há de pior no presente.
Paulo
Delgado é sociólogo
contato@paulodelgado.com.br
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/o-idiota-da-familia-15206459#ixzz3QikdqLFh
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