É cada vez mais comum
ver por aí pessoas que fazem questão de afirmar –em alto e bom som ou nas redes
sociais– o quanto são sinceras, verdadeiras e que "falam na cara,
mesmo". Muitas vezes, no entanto, toda essa atitude anti-hipocrisia não
passa de um comportamento grosseiro. Muita gente que se diz autêntica, na prática,
acaba magoando os outros sem necessidade, com comentários que parecem
motivadores ou críticas construtivas, mas não passam de ofensas.
Vários comentários,
considerados sinceros, são desnecessários. Afinal, qual a utilidade de falar
para um amigo que ele está ficando careca, chegou ao trabalho com um ar
abatido, engordou ou se parece com alguma celebridade intragável? Se ele anda
insatisfeito com a própria aparência, ouvir esse tipo de observação só fará com
que se sinta ainda pior.
Se você faz parte do
time dos adeptos da "franqueza a qualquer preço", está na hora de
rever a forma como vem tratando os outros. O primeiro passo é entender as
diferenças entre sinceridade e grosseria.
De acordo com Alexandre
Bortoletto, instrutor da SBPNL (Sociedade Brasileira de Programação
Neurolinguística), a sinceridade é sinônimo de assertividade. "É algo
positivo, que oferece ganhos tanto para quem escuta como para quem diz",
afirma.
"Porém, quando a ação está carregada de intenções ofensivas para o outro, a ponto de menosprezar e não agregar nada, pode ser sinal de baixa autoestima de quem fala". São comuns comentários travestidos de sinceridade que nada mais são do que alfinetadas, ditas por pessoas que projetam as próprias fraquezas nos outros.
"Porém, quando a ação está carregada de intenções ofensivas para o outro, a ponto de menosprezar e não agregar nada, pode ser sinal de baixa autoestima de quem fala". São comuns comentários travestidos de sinceridade que nada mais são do que alfinetadas, ditas por pessoas que projetam as próprias fraquezas nos outros.
Na opinião da psicóloga
organizacional Izabel Failde, muitos dos que se dizem sinceros são, realmente,
mal-educados e desrespeitosos. Mas podem ser, também, sensíveis, por isso
tratam os demais de um jeito indelicado propositalmente, para manter distância,
como uma forma de proteção.
"Outros simplesmente gostam demais dessa característica, pois acreditam se tratar de uma qualidade, e ignoram o outro, seus limites e emoções. Fazem questão de praticar a sinceridade custe o que custar e chegam ao ponto de não perceber o motivo do distanciamento da família, da ausência de amigos, dos empregos que não dão certo", comenta Izabel
"Outros simplesmente gostam demais dessa característica, pois acreditam se tratar de uma qualidade, e ignoram o outro, seus limites e emoções. Fazem questão de praticar a sinceridade custe o que custar e chegam ao ponto de não perceber o motivo do distanciamento da família, da ausência de amigos, dos empregos que não dão certo", comenta Izabel
Para a sinceridade se
transformar em grosseria, há uma série de fatores. "Depende, muitas vezes,
de como a informação é dada, e não do conteúdo dela em si", afirma Angélica
Capelari, docente do curso de Psicologia da Umesp (Universidade Metodista de
São Paulo). "Assertividade é dizer o que precisa ser dito, para a
pessoa certa, no lugar certo e no momento certo, tudo isso com uma embalagem
elegante", completa Alexandre.
É preciso, ainda, ter
cuidado com as ênfases, pois determinadas palavras recebem um peso maior ou
menor. O tom e o volume de voz também devem ser levados em consideração, assim
como o perfil da própria pessoa que pediu a opinião ou para quem você vai falar
o que pensa. Há pessoas mais frágeis emocionalmente, enquanto outras filtram o
que escutam ou conseguem dar uma boa resposta sem precisar retribuir a
alfinetada.
Segundo a psicóloga
Maria Rocha, podemos dizer certas verdades que podem parecer mais construtivas
e não grosseiras quando temos uma relação mais íntima com a pessoa. Por outro
lado, em um contexto no qual não temos um grau de liberdade com o outro, há o
risco de uma opinião pessoal soar agressiva para quem está ouvindo.
"Esse contexto,
muitas vezes, expõe o outro e seus sentimentos em uma situação que não é
adequada. Por isso, é preciso sempre levar em consideração o respeito ao
próximo e seu ponto de vista. Quando se é sincero, é preciso pensar antes qual
é a real intenção. É comum a pessoa querer passar sinceridade e acabar sendo
grosseira com o que não é dito em palavras, mas nas entrelinhas", diz
Maria.
Para mudar esse padrão
de conduta, tenha autocontrole. É preciso refletir antes de falar, pois não se
deve por para fora tudo o que vem à mente. E, principalmente, é essencial
reconhecer o próprio posicionamento errado para realizar a mudança.
"Quando perceber que foi grosseiro, peça desculpas pela forma que colocou sua opinião e reformule a frase, dessa vez dizendo a mesma coisa de um jeito mais suave. Perceba pela expressão do outro como ele reage à sua forma de falar", diz Alexandre Bortoletto.
Para quem vem sendo alvo de grosseria disfarçada de sinceridade, a psicóloga Izabel Failde tem uma dica: "A pessoa grosseira não está acostumada a ser tratada com educação, por isso, a polidez pode ser impactante e quebrar o padrão. Sem entrar na mesma frequência mal-educada, solicite que o emissor da mensagem seja mais polido, calmo ou claro", declara.
"Quando perceber que foi grosseiro, peça desculpas pela forma que colocou sua opinião e reformule a frase, dessa vez dizendo a mesma coisa de um jeito mais suave. Perceba pela expressão do outro como ele reage à sua forma de falar", diz Alexandre Bortoletto.
Para quem vem sendo alvo de grosseria disfarçada de sinceridade, a psicóloga Izabel Failde tem uma dica: "A pessoa grosseira não está acostumada a ser tratada com educação, por isso, a polidez pode ser impactante e quebrar o padrão. Sem entrar na mesma frequência mal-educada, solicite que o emissor da mensagem seja mais polido, calmo ou claro", declara.
"E expresse na hora
o que sentiu, dizendo que não gostou da maneira como o outro falou. Isso é
saudável, porque você não ficará remoendo o sentimento e já define limites para
que que o interlocutor não repita a atitude", completa a psicóloga Maria
Rocha.
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